Esse texto escrevi pra escola, pra professora de português. Era pra ser uma crônica, deixo a encargo do leitor caracterizá-lo ou não como tal.
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No caminho pra escola
Num dia desses, já no fim do verão, seguindo normalmente minha rotina, despertei às cinco e meia da manhã, tomei o desjejum, me higienizei, fiz minha reflexão devocional matinal diária e me aprontei para ir à escola. Arrumei minha mochila, pus a bicicleta no ombro e desci as escadas. O sol matutino prejudicava a minha visão da rua de pedras mal encaixadas.
Percorri o mesmo caminho de todos os dias, soltei o freio no mesmo ponto do morro, passei correndo num cruzamento na contra-mão, forcei uma moto a me dar passagem, quase atropelei um pedestre na faixa da praça, furei um semáforo aqui, outro ali, e, como não podia faltar nessa época de volta às aulas, quase passei por cima de um calouro da universidade que resolveu atravessar sem olhar para o meu lado, só porque eu vinha na contra-mão.
Observando as pessoas nas ruas, vi muitas caras de sono, outras caras de pressa, outras de susto (quando me viam, o ciclista mais rápido de Viçosa) e outras caras que não expressavam nada. Grande parte destas eram, com certeza, de pessoas que vivem a vida sem pensar. São escravas das mentes dos outros. Essas pessoas precisam ser mandadas, não têm iniciativa própria nem pensamento próprio, pois sempre dependeram de outras pra tudo.
Mas então, ali, no fim da P.H. Rolfs, eu a vi: a "Mulher Brasil", minha maior rival! Mesmo sendo só uma propaganda pintada no para-brisa traseiro de um ônibus, aquele sorriso debochante e o dedo apontando na minha direção sempre soam como um desafio! Pedalei com vontade, e consegui chegar no colégio antes dela. Ao chegar na escola, o sinal já havia tocado, e todos corriam. Tinham pressa, afinal, precisavam saber mais o mais rápido possível. Era por isso que estudavam. São todos escravos de si mesmos, de seus desejos e da urgência capitalista. No espelho do banheiro, me vi: estava pingando suor.